Banco Central do Brasil indica continuidade do ciclo de alta de juros devido à inflação persistente


O Banco Central do Brasil (Bacen) sinalizou que o ciclo de alta dos juros não está concluído, reforçando a necessidade de medidas monetárias rigorosas diante de um cenário inflacionário desafiador, conforme divulgou a ata da reunião de política monetária realizada nos dias 18 e 19 de março. A decisão reflete a persistente pressão sobre os preços, especialmente os alimentos, que continuam elevados no país, afetando a capacidade de compra da população e pressionando o custo de vida.

Inflação de alimentos e serviços continuam em alta

A ata aponta que os preços dos alimentos continuam a ser uma das principais fontes de pressão inflacionária no Brasil. Embora a escassez de produtos agrícolas, exacerbada por fenômenos climáticos extremos, como a seca e as chuvas intensas em várias regiões do país, tenha contribuído para essa situação, outros fatores também estão em jogo. O custo elevado de insumos e a volatilidade cambial, que afeta diretamente o preço de produtos importados, têm gerado um impacto adicional no custo de vida. Isso tem gerado uma preocupação crescente com o aumento dos preços de outros setores, já que a inflação de serviços, que havia desacelerado em 2024, voltou a acelerar, aumentando os custos em áreas como educação, saúde e transporte.

Aumento da Selic e perspectivas de desaceleração da economia

Na reunião de março, o Comitê de Política Monetária (Copom) decidiu elevar a taxa Selic em 1 ponto percentual, levando-a a 14,25%. Além disso, a ata sinalizou que o próximo movimento de ajuste será de menor magnitude, refletindo uma tentativa de equilibrar o combate à inflação com a necessidade de não prejudicar ainda mais a atividade econômica.

“Devido aos defasagens inerentes ao atual ciclo monetário, o Comitê considerou adequado comunicar que o próximo movimento terá magnitude reduzida”, destaca o relatório do Bacen. A decisão de não especificar um aumento exato para o próximo ciclo reflete o nível de incerteza atual da economia, considerando fatores internos e externos, como o cenário político e a volatilidade nos mercados internacionais.

Desde setembro do ano passado, a Selic já foi elevada em 3,75 pontos percentuais, uma resposta às pressões inflacionárias que persistem mesmo após meses de políticas restritivas. Além disso, a combinação de uma política fiscal expansionista, com altos níveis de gastos públicos, e um mercado de trabalho relativamente aquecido, com baixos índices de desemprego, continua sustentando a demanda, o que por sua vez pressiona os preços. Mesmo com esses sinais de desaceleração econômica, não há uma solução rápida para a inflação.

Cenário inflacionário e impactos no crescimento

Os dados mais recentes indicam que a inflação continua a se manter acima das expectativas. Em fevereiro, os preços ao consumidor subiram 1,31%, o maior avanço mensal em três anos, puxados principalmente pelos aumentos em habitação, educação e alimentação. Com isso, o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) acumulou alta de 5,06% em 12 meses, muito acima da meta de 3% estabelecida pelo governo. O Bacen tem monitorado esses índices de perto, reconhecendo que os desafios inflacionários persistem em diversas áreas da economia.

Além disso, o impacto das incertezas geopolíticas globais, como a guerra na Ucrânia e a desaceleração do crescimento de grandes economias, como a China, tem afetado o ambiente de negócios no Brasil, com previsões de crescimento econômico para 2025 e 2026 abaixo do esperado. Analistas consultados pelo Banco Central projetam que o Brasil crescerá cerca de 2% em 2025 e 1,6% em 2026, muito aquém dos 3,4% previstos para 2024.

Projeções de desaceleração econômica e a postura do Banco Central

A perspectiva é de que o Banco Central possa começar a pausar os aumentos de juros à medida que a atividade econômica desacelera. No entanto, especialistas como Caio Megale, economista-chefe da XP Investimentos, apontam que é improvável que o BC consiga interromper o ciclo de alta já na reunião de maio, já que os efeitos inflacionários e o impacto das políticas monetárias passadas ainda são significativos.

Por enquanto, o Bacen parece adotar uma postura de cautela, sem comprometer a capacidade de crescimento do país, mas mantendo sua principal missão de controle da inflação. A questão central continua sendo como equilibrar as pressões inflacionárias com a necessidade de não sufocar a recuperação econômica.

Rumo à estabilização?

A economia brasileira segue em um momento de grande incerteza. O Bacen enfrenta o desafio de reduzir a inflação sem comprometer as expectativas de crescimento. O ciclo de alta de juros deve continuar nos próximos meses, mas a magnitude dos ajustes pode ser reduzida, dependendo da evolução da inflação e da atividade econômica. O caminho para a estabilização passa por um acompanhamento atento dos fatores externos e internos, que continuam a exigir políticas monetárias assertivas, mas também flexíveis.